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Olá, cara leitora, leitor e assinante,

Estava fazendo as contas e descobri que estou em quarentena há exatos 74 dias. O tempo anda correndo muito rápido por aqui. Por aí também?

Na última segunda-feira, dia 25 de maio, chegamos ao episódio de número 40 do podcast "Em Quarentena". Ultrapassamos a marca de mais de 120 histórias de diferentes moradores das periferia da região metropolitana de São Paulo, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Bahia e Pará.

Grande parte dessas histórias passou pelas mãos e pelos ouvidos atentos da nossa repórter e correspondente Ana Beatriz Felício.

Ela é a responsável por vocês ouvirem tantos sotaques, ideias, questões, problemas e experiências.

Na newsletter de hoje, ela dedicou um tempinho para compartilhar como está sendo essa rotina, diretamente do seu quarto em Carapicuíba, na Grande São Paulo.

Espero que você curta e compartilhe, claro (rs).

Um abraço (mesmo que virtual) e boa leitura,

Anderson Meneses

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Carapicuíba pela janela da nossa réporter, Ana Beatriz Felício

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Escutar. Muito além de falar e contar histórias acredito que com o “Em Quarentena” estou aprendendo a ouvir cada vez mais. Escutar as reticências, os silêncios e os pontos de exclamações marcados nas ondas sonoras das mais de 120 vozes que já entrevistamos desde o começo do programa no dia 23 de março de 2020.

Pensando nessas vozes, lembrei de uma que ficou grudada na minha cabeça igual chiclete: “xô coronavírus, xô coronavírus”, do rapper Edson, de Paraisópolis, uma das maiores favelas de São Paulo. Ao lado de amigos, ele comanda o freestyle delivery e sai com uma caixa de som pelas ruas da favela mandando rimas de improviso sobre a prevenção da Covid-19. Foi muito legal bater um papo com ele!

Como achei muito bacana entrevistar a Estela e a Lily, do Povo Kumaruara, que estão passando o isolamento social na Aldeia Solimões do Rio, no Pará, e fazem parte do coletivo de comunicação Jovem Tapajônico.

Aliás, poderia ficar aqui contando o texto todo sobre várias pessoas incríveis que conheci até agora, mas acho que as circunstâncias desses “encontros” também são curiosas. Na Agência Mural estamos de home office desde 16 de março, um pouco antes do decreto de isolamento social em São Paulo.

Por isso, quando comecei a fazer a produção do podcast, me peguei pensando na responsabilidade que seria colocar de pé um programa com informações e relatos, todos os dias, sobre as periferias de São Paulo. O que significa, na prática, deadlines com no máximo 24 horas sendo feitos totalmente das nossas casas. Será que haveria histórias suficientes? Será que daríamos conta?

Logo percebi que encontrar todas essas pessoas diariamente não seria um problema por algo que, na minha opinião, é o mais incrível da Mural: a nossa rede de correspondentes de mais de 80 comunicadores espalhados pelas periferias de São Paulo. As pautas foram aparecendo e ainda aparecem de forma muito orgânica.

Depois de escolhida a história, a maior parte da produção do “Em Quarentena” tem sido feita de dentro do meu quarto em um apartamento na Cohab 5, em Carapicuíba, que é uma cidade da região oeste da Grande São Paulo.

Daqui da janela, vejo mais quatro prédios exatamente como os meus: baixos, cinzas e com pátios internos ligados por escadas que ficam aparentes dependendo do ângulo. Prefiro deixar a cadeira de uma forma que tenha essa visão porque atrás de mim fica a minha mãe, usando a cama de mesa.

Como o nosso apartamento é pequeno, todos os dias adaptamos o quarto para ser nosso “coworking”. Ela trabalha em uma loja de móveis e fala bastante ao telefone. Quem também está desenvolvendo uma grande aptidão para falar muito é minha irmãzinha de quatro anos. Várias vezes enquanto estava entrevistando pessoas e gravando as ligações para usarmos no programa, ouvia as risadas dela ou debates com o pai no cômodo ao lado. Isso quando ela não abre a porta me contando que achou algo fabuloso no sofá. Brinco com as fontes ao telefone dizendo que é uma participação especial na conversa e que já volto, porque vou pedir silêncio no meu “estúdio particular”.

E quem diria que essas entrevistas feitas aqui, dessa forma, seriam ouvidas por tanta gente?! Que chegariam inclusive na rádio Deutsche Welle, lá na Alemanha, em um programa narrado em francês? Ou ainda que a Fundação Gabo, sim aquela fundada pelo meu escritor favorito (que eu citei no meu discurso de formatura no ano passado), destacaria o “Em Quarentena” como iniciativa inovadora na cobertura da Covid-19?

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Foto: Ana Beatriz Felicio/Agência Mural

É meio doido olhar sob essa perspectiva. É claro que eu sempre acreditei muito no potencial do nosso trabalho. Mas dei um grito quando ouvi um jornalista de outro país comentando em francês as histórias que eu apurei daqui, dessa mesa, desse quarto, olhando para essa janela. Nunca pensei em alguém falando o nome da minha cidade em francês por algo feito por mim.

Fico pensando nas ondas sonoras do Edson. Saindo lá de Paraisópolis, viajando até mim e depois ganhando o mundo todo, quase que literalmente. Entrando na casa das pessoas pelos celulares e podendo ser útil para alguém, para melhorar o dia de alguém.

Uma vez, uma ouvinte me disse que achava que a voz do Vagner, que é meu editor e também nosso apresentador, parecia abraçá-la todos os dias. E em tempos de tanta desinformação, mensagens de ódio e ataques a nossa profissão, fazer um jornalismo que toca as pessoas, que as abraça, que dialoga com a rotina delas, me deixa muito feliz como jovem jornalista que sou.

Vou revelar para vocês que o corre não está sendo fácil, mas muito gratificante. E quando tudo isso passar (porque uma hora vai, não é possível!) espero sair uma profissional mais madura e que está no caminho para aprender a ouvir, finalmente entendendo que isso é primordial para o jornalismo. E, claro, cheia de novas histórias de pessoas incríveis para contar também na mesa do bar!

Ana Beatriz Felício, é correspondente de Carapicuíba desde 2018.

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